quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Ler, Ver e Ouvir dessa semana - Para Ler - Festival literário internacional de Paraty (FLIP)

É um festival de literatura que foi lançado no ano de 2003  realizado pela Associação Casa Azul, sendo conhecida internacionalmente como um dos principais festivais literários. Possui uma duração de cinco dias, com duzentos eventos, incluindo: debates, shows, exposição, exibição de filmes, apresentações de escolas e muito mais.

A cada ano a FLIP homenageia um escritor (a) brasileiro para perpetuar e valorizar a língua portuguesa e a nossa literatura. Grandes nomes já passaram pelo festival, como: Ariano Suassuna, Angélica Freitas, Chico Buarque, entre outros. Esse ano a homenageada foi a escritora, poetisa, dramaturga e cronista Hilda Hist. O livro “Júbilo, memória, noviciado e paixão” foi o mais vendido ao longo dos cinco dias do festival. Quem também teve um grande destaque esse ano foi a escritora e filósofa Djamila Ribeiro, que juntamente com Hilda, integrou a lista de best-sellers, ficando em segundo lugar com o livro “O que é lugar de fala” e “ Quem tem medo do feminismo negro?” em terceiro.


Djamila Ribeiro é  mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo, feminista e ativista do movimento negro, tornou-se conhecida pelo seu ativismo na internet. A autora participou de uma mesa de debate no FLIP para falar sobre o feminismo negro. Juntamente com Djamila, a argentina Selva Amada, que lançou o livro “Garotas Mortas” relata o caso de três moças assassinadas em seu país e Selva também abordou temas como feminicidio, violência contra mulher e como no cotidiano as mulheres são abusadas constantemente, por mais “sutil” que pareça. As duas foram bastante aplaudidas pelo público, sendo um dos dias mais aguardados para quem frequentou o festival.

Vamos conhecer um pouco mais sobre o livro de Djamila?

O que é lugar de fala? – Djamila Ribeiro: Lançado pela editora Letramento, “O que é lugar de fala?’ Integra uma coletânea de livros escritos por mulheres e homens negros dando espaço para grupos que, historicamente sempre foram marginalizados, abordar temas como o racismo estrutural que existe no país, o empoderamento, branquitude, para nos fazer refletir sobre qual o nosso a papel em uma sociedade desigual.

Confira um trecho do livro:

“Muito tem se falado ultimamente sobre o conceito de lugar de fala e muitas polêmicas acerca do tema têm surgido. Fazendo o questionamento de quem tem direito à voz numa sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade, o conceito se faz importante para desestabilizar as normas vigentes e trazer a importância de se pensar no rompimento de uma voz única com o objetivo de propiciar uma multiplicidade de vozes. Partindo de obras de feministas negras como Patricia Hill Collins, Grada Kilomba, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Sueli Carneiro, o livro aborda, pela perspectiva do feminismo negro, a urgência pela quebra dos silêncios instituídos explicando didaticamente o que é conceito ao mesmo tempo em que traz ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história. 

Em Aprendendo com o outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro, Patricia Hill Collins fala da importância das mulheres negras fazerem um uso criativo do lugar de marginalidade que ocupam na sociedade a fim de desenvolverem teorias e pensamentos que reflitam diferentes olhares e perspectivas. Pensar outros lugares de fala passa pela importância de se trazer outras perspectivas que rompam com a história única."

O livro é dividido em quatro partes, a priori a autora nos apresenta o contexto histórico sobre os termos que foram citados acima para que possamos entender como foram originados e o porquê. A medida que vamos avançando a leitura Djamila nos explica o que é o lugar de fala e porque existe um mal-entendido a cerca do tema. Ela relata que comumente as pessoas presumem que, quando uma pessoa do movimento negro diz “ Este lugar de fala é meu” outras pessoas não possam falar sobre as dificuldades que os negros enfrentam. Mas na verdade não é bem assim, existe a empatia pelo sofrimento do outro, porém, quem melhor para falar sobre racismo, do que o próprio negro, visto que passou sua vida inteira invisível e agora tem a oportunidade de proferir a sua vivência. 

É importante discutirmos sobre o que é o lugar de fala, pois cada indivíduo possui uma experiência diferente acerca de diversas situações. Vamos exemplificar: um homem pode entender como o machismo afeta as mulheres, mas ele nunca vai sofrer de fato com isso porque, afinal de contas, ele é homem. A ideia não é mensurar quem sofre mais e sim unir forças para lutar contra esses preconceitos enraizados em nossa sociedade.

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